Dias atrás, apliquei sua prova de redação, no segundo ano noturno. Enquanto aguardava os alunos, decidi fazer a prova, também. O texto era inspirador, mas, infelizmente, me vi em maus lencôes. Nada contra O Pequeno Príncipe, que li e reli, como a maioria dos jovens de nossa época. Acho que é tempo de estrada mesmo. "Bateu o pistom, me ferveu os miolos, não sei", só sei que não conseguia escrever nada. Imagine se estou no ENÉM? Tinha ficado de fora, ou como diziam os mais velhos, tinha ido a vaca pro bejo, porque eu tentava e nada, nem uma inspiração, sequer, me aparecia.
Então, um aluno percebeu o meu desconforto e perguntou:
____ Precisa de ajuda aí, professor?
Não aceitei, é claro, mas um lápis eu aceitei, já que minha prova era rabisco só.
Fiz e refiz a prova, e a redação, agora com o lápis.
Os alunos iam entregando sua prova e saindo. Por fim ficamos eu e um únco aluno, que de um salto chegou à minha mesa e deixou sua prova sobre ela. O aluno olhou para um lado e resolveu sentar perto da minha mesa. E até tentou me ajudar com a redação.
Passados alguns minutos, ele me perguntou:
____ Acabou professor?
Não. E se fosse valendo, eu estaria no pau, com certeza, pois não estou mesmo inspirado hoje.
____ Pois é Salvador, mas não cobram da gente? Eu tinha que estar inspirado, sem recurso. Mas, já que você não é aluno, não se preocupe. Devolve o meu lápis, que eu quero mesmo é ir embora.
Eu me levantei, joguei o rascunho no lixo e saímos. Não havia mais o que falar, até porque, no outro dia a prova seria de matemática e eu não me atreveria a tentar resolver uma prova da professora Terezinha.
Salvador é professor de história, filosofia e psicologia.
Psicanalista Clínico. Atende na Clínica Pax Rio Branco 3551 1340